Se arroz e feijão são essenciais para a vida, as notas são
fundamentais para as assessorias de imprensa. Algumas no entanto, acabam se
transformando em meros expedientes, nada acrescentam em termos de informações. Duas
dessas notas me chamaram a atenção nesta semana que acaba hoje (15). Uma delas
eu comento nesta postagem, a outra merece outro bate papo com o internauta.
A primeira é da Associação dos Delegados de Polícia Civil do
Estado do Acre (Adepol), com relação à transferência do delegado Karlesso
Nespoli da Divisão de Inteligência Criminal, a DIC, para a 3ª Regional.
A nota se refere mais a defesa da estrutura institucional do
que a ordem social. O texto assinado pelo delegado Cleyton Videira dos Santos afirma
que a associação tem acompanhado fatos que envolvem seus associados, em
especial “os que venham a atentar contra
a honra e dignidade, afronta estas que serão objeto de interpelações na esfera
judicial”.
Tudo bem que o corporativismo seja
uma ação em que prevalece a defesa dos interesses ou privilégios de um setor
organizado da sociedade, mas este nunca deve estar acima do interesse público. Confesso
que esperava mais da Adepol que, em nenhuma linha, de sua “nota de apoio”,
defendeu o verdadeiro esclarecimento dos fatos: quem praticou violência e estuprou o menor C. A. O. J. com uma barra de
ferro na noite de 5 de setembro em sua residência, quando a madrasta e a vítima
foram surpreendidos com o arrombamento e a invasão em sua residência por
supostos policiais civis utilizando balaclava (gorro de malha que cobre a
cabeça)?
Esse é o grande questionamento
que a sociedade espera ser respondido imediatamente e que os culpados, sejam os
supostos agentes da PC ou não, precisam ser punidos com justiça e apresentados
à sociedade.
Em nenhum momento a reportagem divulgada no ac24horas coloca em xeque a dignidade do cidadão Karlesso
Nespoli. Nas duas notas que eu assinei, está claro que ele foi quem provocou a
Corregedoria sobre os fatos ligados, naquela época, a seus supostos
subordinados.
O que causa estranheza é o porquê
de repetidas vezes, o delegado ter se negado, no exercício de suas atividades
profissionais, gravar entrevista sobre o assunto. Quando esteve à frente da
coordenação da DIC, preferiu o caminho da assessoria de imprensa, evitou ser
questionado.
Se foi transferido por questões de
dinâmica – como diz a nota de apoio e a própria assessoria de imprensa da
Polícia – isso aconteceu após o seu pedido de investigação à corregedoria da
Polícia Civil, da suposta violência seguida de estupro do menor C. A. O. J., é fato.
Mas diante da repercussão da
matéria, acompanhada pela Promotoria Especializada de Controle Externo da Atividade
Policial e Fiscalização de Presídios e após a Ordem dos Advogados do Brasil –
OAB/Seccional – Acre, a Polícia Civil devia maiores esclarecimentos à sociedade
do que um simples decreto no Diário Oficial.
Ainda bem que o trabalho da
Corregedoria da Polícia Civil vem sendo realizado com muita transparência,
afinal, este órgão da comunidade deve ser independente e tem como principal
função ser porta-voz da população em atos irregulares praticados por seus
agentes.
Neste caso não resta dúvidas que o dever de explicações à sociedade é do
estado e não da vítima.
Nenhum comentário:
Postar um comentário