sábado, 15 de outubro de 2016

Quem deve explicações a sociedade: o estado ou a vítima?

Se arroz e feijão são essenciais para a vida, as notas são fundamentais para as assessorias de imprensa. Algumas no entanto, acabam se transformando em meros expedientes, nada acrescentam em termos de informações. Duas dessas notas me chamaram a atenção nesta semana que acaba hoje (15). Uma delas eu comento nesta postagem, a outra merece outro bate papo com o internauta.

A primeira é da Associação dos Delegados de Polícia Civil do Estado do Acre (Adepol), com relação à transferência do delegado Karlesso Nespoli da Divisão de Inteligência Criminal, a DIC, para a 3ª Regional.

A nota se refere mais a defesa da estrutura institucional do que a ordem social. O texto assinado pelo delegado Cleyton Videira dos Santos afirma que a associação tem acompanhado fatos que envolvem seus associados, em especial “os que venham a atentar contra a honra e dignidade, afronta estas que serão objeto de interpelações na esfera judicial”.

Tudo bem que o corporativismo seja uma ação em que prevalece a defesa dos interesses ou privilégios de um setor organizado da sociedade, mas este nunca deve estar acima do interesse público. Confesso que esperava mais da Adepol que, em nenhuma linha, de sua “nota de apoio”, defendeu o verdadeiro esclarecimento dos fatos: quem praticou violência e estuprou o menor C. A. O. J. com uma barra de ferro na noite de 5 de setembro em sua residência, quando a madrasta e a vítima foram surpreendidos com o arrombamento e a invasão em sua residência por supostos policiais civis utilizando balaclava (gorro de malha que cobre a cabeça)?

Esse é o grande questionamento que a sociedade espera ser respondido imediatamente e que os culpados, sejam os supostos agentes da PC ou não, precisam ser punidos com justiça e apresentados à sociedade.

Em nenhum momento a reportagem divulgada no ac24horas coloca em xeque a dignidade do cidadão Karlesso Nespoli. Nas duas notas que eu assinei, está claro que ele foi quem provocou a Corregedoria sobre os fatos ligados, naquela época, a seus supostos subordinados.

O que causa estranheza é o porquê de repetidas vezes, o delegado ter se negado, no exercício de suas atividades profissionais, gravar entrevista sobre o assunto. Quando esteve à frente da coordenação da DIC, preferiu o caminho da assessoria de imprensa, evitou ser questionado.

Se foi transferido por questões de dinâmica – como diz a nota de apoio e a própria assessoria de imprensa da Polícia – isso aconteceu após o seu pedido de investigação à corregedoria da Polícia Civil, da suposta violência seguida de estupro do menor C. A. O. J., é fato.

Mas diante da repercussão da matéria, acompanhada pela Promotoria Especializada de Controle Externo da Atividade Policial e Fiscalização de Presídios e após a Ordem dos Advogados do Brasil – OAB/Seccional – Acre, a Polícia Civil devia maiores esclarecimentos à sociedade do que um simples decreto no Diário Oficial.

Ainda bem que o trabalho da Corregedoria da Polícia Civil vem sendo realizado com muita transparência, afinal, este órgão da comunidade deve ser independente e tem como principal função ser porta-voz da população em atos irregulares praticados por seus agentes.

Neste caso não resta dúvidas que o dever de explicações à sociedade é do estado e não da vítima.







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