Não precisa ser nenhuma especialista em agronegócio para
concluir o que está por trás dessa crise no consumo do açaí no estado do Acre,
especialmente em Feijó, a terra do fruto roxo. A incapacidade do atual governo
na organização de cadeias produtivas.
Enquanto por aqui ainda se discute o consumo com ou sem a
presença do agente causador da Doença de Chagas, no Pará – maior produtor
nacional – o desenvolvimento de novas espécies de Açaí é uma estratégia de
governo junto com a Embrapa voltada para plantação de larga escala e a
ampliação do atendimento ao mercado externo. Países como Estados Unidos e Japão
são os maiores consumidores. Ou seja, estão dez passos à frente.
Em 2013, o governo do Acre até tentou incentivar a produção
através do Projeto Açaí de Feijó, mas esqueceu que uma cadeia produtiva é um
conjunto de etapas consecutivas e sua organização não se resume apenas na
distribuição de mudas, como aconteceu. Tanto é que, das 400 famílias que
deveriam estar inseridas na estratégia, pouco mais de 200 sobrevivem
enfrentando sérias dificuldades. Escoamento, assistência técnica, são alguns
dos itens lembrados.
A técnica do “branqueamento” que o secretário de saúde Gemil
Júnior convocou uma coletiva para falar, é ensinada há décadas como a saída
mais econômica e viável para evitar a contaminação pelo agente causador da
Doença de Chagas. Mas como nesse governo tudo só acontece na pressão, foi
preciso uma postagem no facebook viralizar e se tornar em uma manchete de
jornal para que IDAF, Vigilância Sanitária, Secretaria de Agricultura e outros
atores surgissem “preocupados” com a saúde da população. Tão preocupados que
recomendaram o consumo do açaí a olho nú, sem que saibamos sequer qual a
procedência. Sem código de barras, ao Deus dará, como diz o matuto mateiro.
Para se ter a ideia do descaso ou da ausência do estado
neste caso, não existe sequer uma legislação vigente que regulamente a produção
artesanal do açaí. O ponto chave da organização de qualquer cadeia produtiva é
a industrialização. No Acre de uma meia dúzia de agroindústrias na área de
frutas, cinco são cadastradas no Ministério da Agricultura, a de Feijó,
enfrenta a burocracia para conseguir se regulamentar.
Tal atitude parece mesmo com a falida política de
industrialização do atual governo, incapaz durante todos esses anos de
desenvolver uma marca regional, sem falar nos avanços tecnológicos que o
mercado de Açaí em expansão requer. Continuamos assistindo o crescimento da
demanda interna e externa, da exportação, a diversidade de produtos e derivados
sendo mais uma oportunidade de negócio ambientalmente correto nos demais
estados da Amazônia.
Vai uma dica para os secretários do IDAF e da Secretaria de
Agricultura: saiam um pouco mais de dentro dos seus gabinetes, vão conhecer de
perto a realidade econômica do estado. A falta de conhecimento por parte das
comunidades que produzem o açaí de forma artesanal, acaba desestimulando a
adoção de práticas sustentáveis de exploração da matéria-prima, bem como de
medidas que promovam o aumento da produção e da qualidade dos frutos.
Isso não é nenhuma novidade para um estado que não tem o que
comemorar quando o assunto é parceria público-privada.
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