Certamente a aparente frieza e ausência de limites nos dois
crimes que ocorreram na Região do Antimary – no meio da floresta amazônica – e na
cidade do Bujari, no Acre, nos espantam. A sociedade viveu a partir da última
sexta-feira 13, uma sequência de homicídios, desde os atentados à França, que
desenrolaram-se dramaticamente em nosso cotidiano.
A chacina cometida contra Lucimar Bezerra, de 33 anos,
dentro da Delegacia de Polícia Civil, mostra a incapacidade do nosso sistema de
garantir segurança de um preso, mas também ilustra o ódio extremo ao outro, a
desumanização. Quanto vale uma vida?
O momento é de profunda reflexão.
Fico imaginando como serão os próximos dias das centenas de famílias do Bujari,
uma cidade até então conhecida pelo clima pacato. Muitos são os argumentos,
várias foram as propostas apresentadas nas redes sociais, pouco, porém se
falou, que tudo isso é reflexo do nosso cotidiano.
Ou será que querem empurrar de goela abaixo que existe
diferença entre o gesto de um assassino como Lucimar, a ação dos que entraram
na delegacia para matá-lo e o frequente desvio de grandes somas de dinheiro
público por cidadãos “acima de qualquer suspeita”?
O dinheiro desviado pela corrupção falta na educação e no
empoderamento das comunidades. Milhares de outras pequenas barbáries acontecem
no dia-dia. Como diz (Costa, J.F. 1999:5-3) no Brasil também tornou-se
"(...) uma forma corriqueira de levar ao extremo o jargão leviano tudo é
mercadoria".
Assim, segundo o autor, a violência presente na realidade
brasileira articula-se com os efeitos perversos do processo de mercantilização
capitalista levado ao extremo, que destrói qualquer valor ou norma social não
relacionado com a ideologia do lucro fácil e da busca da satisfação imediata do
desejo de consumir.
O autor segue narrando que “os jovens integrantes das
gangues matam e roubam, conforme testemunhas de seus crimes, para ostentar
carros, motos e roupas. Mas o desejo de lucro, não importa o método utilizado,
também está presente entre aqueles que roubam em benefício próprio o dinheiro
público”.
E tem razão, sejam os membros das gangues, políticos ou
empresários corruptos, todos perseguem o dinheiro para usufruir as delícias do
consumo alardeadas pela nossa sociedade.
Mas voltando ao tema inicial, o ódio ao próximo revelado
pelo rito sanguinário com que Lucimar supostamente matou a jovem Jardineis da
Silva, de 25 anos, e a filha da moça, um bebê de apenas seis meses de idade, ele
foi produto do meio, era um que estava imerso, em uma cultura “narcísica” da
violência que se nutre da decadência da família, do descrédito social, da
ausência da moral e ética. Ele seguiu a cultura da delinquência.
Qualquer um que siga esse caminho, e isso vale para os que
entraram na Delegacia e tiraram a vida de Lucimar, não aceita limites e tem um
profundo desprezo pela vida de outra pessoa. Como diz Costa, J.F. (1989:134-5),
“considera-se acima da lei e desafiando, de forma grotesca, todos aqueles que
não queiram converter-se em apêndice de sua onipotência".
Esse momento do Brasil vai entrar para a história. Nos
defrontamos com crimes que refletem a sociedade e o estado brasileiro.
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