Concordo com o empresário Leandro Domingos quando este
afirma que o governo de Sebastião Viana precisa aprender a interpretar. Diria
mais, precisa ser mais sensível a algumas questões fundamentais para o Acre e o mundo,
como o meio ambiente, bandeira tão utilizada nos últimos tempos apenas para
fazer propaganda lá fora.
Em agosto desse ano, eu estive pessoalmente na chamada
última fronteira, em Foz do Breu, no município de Marechal Thaumaturgo e de lá
trouxe o alerta feito por uma das lideranças locais, o pastor Zé da Costa,
sobre a situação de abandono e a saída das famílias que sem perspectivas
nenhuma, iam em busca de mais qualidade de vida. O sentido inverso do que
Antônio Alves um dia sonhou e escreveu como Florestania.
“Quem insiste em ficar aqui convive sem energia elétrica,
sem medicamentos, sem transporte e sem telefonia” me revelou o pastor Zé Costa.
A prefeitura de Marechal Thaumaturgo, que tem outro petista à frente da gestão,
doa apenas 500 litros de óleo diesel por mês, o restante, deveria ser doado
pela comunidade.
A parceria seria perfeita se os produtores de feijão, milho,
arroz e cana de açúcar, tivessem o mínimo de apoio necessário. Sem barcos, a
única produção que os ribeirinhos assistem passar é a de drogas, em canoas que
varam as madrugadas pelas águas que limitam o Brasil e Peru.
“A gente ouvi falar que os barcos que passam ai muitas vezes
pela madrugada carregam drogas, mas o que fazer, não temos como impedir esse
mercado, nem policia existe por aqui” desabafou seu Raimundo.
Tráfico pesado, falência da borracha, isolamento a quem vive
como guardiã da Floresta. Difícil de acreditar, mas com todas essas
referências, ainda existe esperança. Dona Leonice Silva (foto à esquerda), que há seis décadas
assiste o sol nascer às margens do Rio, diz que mesmo com todas as
dificuldades, todas as ameaças, “não troca o pedacinho de chão por nada”.
Mas nem todos pensam assim. Essa semana, localizei através
de uma denúncia, dezenas de famílias que abandonaram a Foz do Breu com a
promessa de vida farta. Inseridas no Parque Ecológico do município de Plácido
de Castro, elas acreditaram em uma ação de etnoturismo mal planejada e estão
sendo vítimas das promessas de mais um membro da Frente Popular do Acre, o
prefeito Roney Firmino.
Confinadas, sem rios por perto, sem igarapé, sem açude, sem
roçado, os índios estão, de acordo com uma denúncia enviada ao site ac24horas,
passando fome. E tudo com o amplo conhecimento da Fundação Nacional do Índio
(Funai).
O fato vem à baila exatamente na semana que antecede mais
uma participação do governo do Acre em um evento internacional sobre o meio
ambiente, a COP 21, que acontece na França, onde o estado será anunciado pela
ministra do meio ambiente do governo Dilma Rousseff, como referência para zerar
o desmatamento ilegal em toda a Amazônia.
Uma delegação acreana deve se fazer presente ao evento.
A pergunta é, como um estado que não vem cuidando com eficiência dos povos da
floresta, habilita-se a ser referência em zerar o desmatamento ilegal em toda a
Amazônia?
Isolados e pobres, vivendo de agricultura de subsistência, com quase nenhum acesso à tecnologia, moradores da Foz do Breu, assim como os de outras fronteiras pedem socorro. Estão sendo praticamente exterminados pelo tráfico de drogas e a retirada ilegal de madeira.
A triste conclusão que tiramos dessa história é que o Acre
servirá mais uma vez de piada para gringo rir.
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