terça-feira, 18 de agosto de 2015

Existe vida na última fronteira do Brasil com o Peru



Durante três dias andando pelas regiões mais isoladas do estado do Acre a gente aprende a refletir melhor sobre a própria vida.

Enquanto a maioria das pessoas vive em grandes cidades cercadas de gente e prédios por todos os lados, é difícil de imaginar que no planeta, ainda tem pessoas que encontram sua verdadeira felicidade estando longe de tudo, do estresse da vida urbana, do consumismo, da poluição, da competitividade e mesmo assim são felizes.

Ao chegar à Foz do Breu – uma das comunidades mais isoladas do Acre – depois de uma difícil aterrizagem de avião monomotor na pista improvisada construída pelos próprios moradores, tive a oportunidade de conversar, na última fronteira em linha d'água do Brasil com o Peru , com dona Leonice da Silva, uma das mais antigas da região.

Ela tinha me chamado atenção desde sua entrada no local de uma reunião política com a presença dos senadores Gladson Cameli (PP-AC) e Sérgio Petecão (PSD-AC). Como diz o ditado popular: sem papas na língua, interrompeu o protocolo e foi logo falando de forma muito objetiva dos principais problemas enfrentados pelos moradores.

“A vida aqui já foi muito boa, hoje os moradores estão deixando a Vila para ir morar na cidade” desabafou Leonice.


De fato, com energia apenas quatro horas por dia, sem barcos para escoar seus produtos e com praticamente nenhum tipo de medicamentos no estoque da farmácia, muitos que viviam no povoado colocaram seus saquinhos nas costas e partiram para Marechal Thaumaturgo. Um verdadeiro retrocesso do conceito de florestania criado pelo jornalista Antônio Alves Leitão Neto, que pensou no final dos anos 80, na cidadania adaptada à Floresta Amazônica: a chamada Florestania, depois carimbado como “governo da floresta” por Binho Marques, conceito que mais tarde foi ignorado pelo atual governador Sebastião Viana.

Bem, após o desabafo de dona Leonice eu me aproximei dela e com a desculpa de tirar uma foto acabei conhecendo um pouco mais das seis décadas que ela sobrevive em plena floresta amazônica. Na verdade, queria descobrir qual a motivação para que pessoas como ela, continuassem a vida às margens dos rios.

Fiquei encantado com a calmaria que existe por trás daquela mulher reivindicadora e que parecia tão valente. “Mesmo com toda dificuldade eu não troco esse pedacinho de chão por nada” disse Leonice ao ensaiar um breve sorriso.

De mãos abertas e olhar atento aos meus olhos, ela parecia dizer que ainda é possível ter esperanças, de mostrar que mesmo isolados e pobres, vivendo de agricultura de subsistência, com quase nenhum acesso à tecnologia, eles, os povos da floresta, são mais que isso. 

Ora, tudo é uma questão de ótica.
Imaginemos que eles vivem em contato direto com a natureza, próximos dos rios, das riquezas de nossa fauna e flora. Um ambiente sem poluição. Esse lugar ainda existe no planeta! 

O homem que sempre coloca este modelo de vida em extinção é quem acaba destruindo tudo com a desculpa de melhorar a qualidade de vida desses povos. 

Sai da Foz do Breu com uma visão de que precisamos de muito pouco para sermos felizes. Por isso defendo uma política ambiental justa que pague a esses bravos guerreiros e guardiãs de nossa amazônia, um valor justo pelo modelo de vida que eles nos oferecem mantendo viva, mesmo que a duras penas, nossa Floresta.


Último afluente do Rio Juruá em território nacional, o Rio Breu faz a fronteira por linha d’água com o Peru. Inicialmente, território indígena e, sucessivamente, território peruano, acreano, brasileiro e parte da Reserva Extrativista do Alto Juruá, a Foz do Breu é um antigo seringal, onde Cândido Ferreira Batista mantinha um entreposto comercial, o famoso Barracão, desde meados de 1908.

Por volta de 1940, Ernestina Rodrigues da Silva, que era empregada de Cândido Ferreira, casa-se com um de seus filhos: Dulcílio Ferreira Batista. Após o falecimento do sogro e do marido, ela deu sequência à convivência no local até as investidas de povoamento através dos Ferreira Batista e Rodrigues da Silva. 

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