segunda-feira, 11 de janeiro de 2016

O Rio Azul de águas barrentas



O sonho de navegar pelos rios de nossa Amazônia eu acredito que deve ser o de qualquer um que ama essa terra. Para mim, particularmente, é quase um dever fazer esse tipo de navegação, sou defensor nato da floresta viva, um conceito adquirido através da Doutrina do Daime.

Um grande pensador, Henry David, diz que o homem deve ir à floresta para se manter vivo. Eu quero viver profundamente e sugar a própria essência da vida. Há um prazer nas florestas desconhecidas.
Nossa viagem pelo rio Azul começou pelo que os naturalistas daqui chamam de “furo”. Um caminho entre as voltas dos rios que encurta distância. Foi pelo furo do Japiin que chegamos mais rápido até o Rio Moa. Era o início de nossa subida. Estava ao lado do senador Gladson Cameli (PP-AC) e o comandante de nossa voadeira, o Zezinho.

Nas primeiras horas de navegação pelas águas caudalosas do Rio Moa já deu de perceber a existência de uma sociedade onde praticamente ninguém penetrou, mas apesar da sensação de solidão, não foi exatamente uma viagem solitária. Uma cena que parece ser repetida é a de pequenas embarcações subindo e descendo o rio, algumas a remo, mostrando o tamanho da força desse povo guerreiro que guarda nossas florestas.



Antes do destino final do primeiro dia, uma parada obrigatória na comunidade São Salvador. Acompanhava o senador no bate papo com lideranças religiosas e produtores do local. Confesso ter me impressionado com o prazer das pessoas de conhecer pessoalmente o sobrinho de Orleir Cameli.

De volta ao percurso, nossa preocupação era chegar com luz do dia na Comunidade Queimadas. Já estávamos no rio Azul. Eram mais três horas e meia de viagem até a embarcação de apoio, uma balieira que saiu um dia antes com alimentos e bebidas.

Antes mesmo da primeira hora de navegação pelo rio Azul – que tem águas meio barrentas – os primeiros obstáculos surgiam.  Balseiros exigiam maior perícia de nosso piloto e o esforço de todos da embarcação, por aqui, até quem tem mandato mete a mão na massa.


Por volta das 15h30, após praticamente seis horas de viagem, uma surpresa, o balieira que deveria estar na Comunidade Queimadas estava ancorado na colocação Bom Sossego. O rio Azul dava sinais de rápida vazante, impedindo o curso da embarcação e nos obrigando a desembarcar antes do previsto.

Era hora de descer as malas e preparar-se para uma noite no meio da floresta amazônica. A recepção calorosa de dona Beliza (foto à esquerda) de 89 anos,  mostrava o cenário de população tradicional inserida num modo peculiar de viver, trabalhar e construir saberes.

Enquanto uns desembarcavam as lanchas, outros armavam redes nos melhores locais. A dormida foi um detalhe que eu deixei para depois, corri para comer uma deliciosa farofa e ainda me recuperar com um banho no rio Azul.  

Para mim, a viagem já era compensada com aquele cenário espetacular. Daqui pra frente era aproveitar todo o tempo possível no contato com os mais antigos ouvindo as histórias de quem escolheu esse pedaço de chão para viver.

Continuo essa história.

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