sexta-feira, 15 de janeiro de 2016

O engodo da Florestania


Tenho ouvido vez ou outra falar de José Chalub Leite. As vezes através do meu guru no jornalismo, o Roberto Vaz, ou pela minha diretora, Silvania Pinheiro. O leitor deve estar se perguntando: mas o que ele tem a ver com florestania?

Sinceramente falando, nada. Mas é dele a frase: “o Acre é terra onde todo artista se acaba”.

Fazendo uma analogia desta frase com o conceito de florestania criado pelo jornalista Antônio Alves, no final dos anos 80, posso afirmar que essa ideia – do homem habitar a floresta com prosperidade – se acabou.

Durante minha viagem pelo rio Azul e as visitas feitas no acompanhamento da caravana do senador Gladson Cameli (PP-AC) a 9 comunidades inseridas em projetos de assentamentos na Serra do Divisor, no Acre, certifiquei-me dessa triste realidade. Das 58 famílias assentadas ao longo desse rio, a metade deixou o local e voltou para a cidade. Esse fato se repete nas demais comunidades, onde a ideia simples mirada por Antonio Alves, nunca saiu do papel. Serviu apenas para os governos do PT buscarem prestigio nacional e internacional.

Quem lembra do “governo da floresta” carimbado nas campanhas de publicidade de Jorge Viana e Marina Silva, seguido pelo ex-governador Binho Marques?

A imagem abaixo, do Posto de Saúde na Comunidade Sossego fala por si só. Invadido pelo mato, virou depósito de baratas. 

A malária assusta e para fazer o simples teste da lamina de vidro, o paciente precisa descer o rio e navegar cerca de seis horas até o município de Mâncio Lima. E olha que falamos apenas do problema mais agudo na área de saúde. Imaginem mães que passam nove meses de gestação sem nenhum tipo de acompanhamento médico! Não existe água tratada, o rio é a grande pátria.

Na área de produção, um simples ramal de menos de um quilômetro é uma reivindicação antiga que nunca foi respeitada. Faltam implementos agrícolas, assistência técnica, transportes para o escoamento da produção, enfim, falta florestania.

“O último governador que olhou por nós foi Orleir Cameli” disse seu Erson Souza, a maior liderança da Comunidade Nova Lição.

Orleir Cameli governou o Acre de 1995 à 1999. São 17 anos que essas comunidades vivem praticamente sem nenhum tipo de assistência. Sem nenhuma relação mais calorosa com os governos que sucederam Orleir Cameli: Jorge Viana, Binho Marques e Tião Viana. Os mentores da Frente Popular do Acre e do modelo de desenvolvimento sustentável e ainda, do conceito criado por Binho Marques de empoderamento das comunidades.

Um grande engodo.
Binho Marques o último a defender tal ideia e que apresentou o Acre como o melhor lugar para se viver na Amazônia foi morar em Brasília.  Florestania é felicidade, respeito ao meio ambiente, ganhar dinheiro com a floresta, sem destruí-la", dizia Jorge Viana em suas palestras. Dizia, porque na atualidade, ele está muito mais preocupado em defender seus amigos de partido no escândalo da Lava Jato, do que falar na antiga ideia.

Tião Viana, o terceiro personagem, rompeu definitivamente com o conceito, resolveu industrializar do seu modo, o estado do Acre. Faz um governo pífio na área ambiental.

Além dos traficantes que descem com drogas vinda do Peru, quem navega pelas águas barrentas do rio azul ou pelos ares da Serra do Divisor são os prepotentes agentes do Ibama e do ICMBio. Além das multas milionárias aplicadas nos pequenos produtores, eles ainda confiscam suas poucas cabeças de gado, causam terror, insegurança jurídica e muita humilhação.  

A história do Chico da Serra (foto à direita) emocionou o senador Gladson Cameli. O produtor nascido e criado na Serra do Divisor foi multado em mais de R$ 600 mil e teve seu gado confiscado. "Estou sendo tratado como criminoso" relatou.

Tenho certeza de que nem de longe essa foi a florestania pensada pelo jornalista Antonio Alves. Tanto que ele rompeu com o governo da Frente Popular, tem vivido de forma simples na comunidade do Alto Santo, no Acre, e hoje é o presidente regional da REDE, partido de Marina Silva.

Como dizia Jorge Kalume: o homem da floresta continua no coração da selva Amazônica a golpes de ousadia, criando novas dimensões, com os pés mergulhados nos igarapés e rostos marcados pelo bronze do sol. Eles são um punhado de bravos!


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