Desabrigados
reclamam de promessas não cumpridas pelo governador Sebastião
O Rio Acre
que tem sua média de seis a oito metros, atingiu 17m87, um nível histórico, acima da maior cheia registrada em 1997 quando
chegou a 17m66. No Parque de Exposições Marechal Castelo Branco, 1.395 famílias
estão alojadas em abrigos improvisados, um total de 4.933 pessoas.
Elas não
reclamam do atendimento dado pelo poder público. Um abrigo de 4m² fechado por
lona preta, água potável, três alimentações diárias, posto de saúde com
medicamentos, segurança reforçada, psicólogo, terapia ocupacional para as
crianças, rádio, e até um contato mais próximo com as maiores autoridades do
estado e município que aparecem de vez em quando mostrando preocupação com a
situação de calamidade.
“Tudo isso
seria bom se saíssemos daqui para nossa casa fora da área de alagação”,
comentou a empregada doméstica Roberta Paula.
No Centro de
Multimeios organizado pelo município, Roberta, ao lado dos dois filhos, rabiscava com lápis coloridos e muita paciência,
o sonho de não enfrentar mais essa situação. Moradora do bairro Baixada da
Habitasa, ela está há seis dias no abrigo público.
Esta é a
realidade de milhares de famílias que todo ano são retiradas das margens do Rio
Acre – a grande maioria – com o mesmo perfil social. Pai e mãe desempregados,
beneficiários do Bolsa Família, alta taxa de natalidade, acossadas por rendas
miseráveis.
Seu
Francisco do Carmo, aos 84 anos, é ex-seringueiro, vive
pela décima vez a mesma
situação. Tem que sair do bairro Triângulo onde mora com a filha e mais sete
netos. Cego desde os 18 anos de idade, ele divide um dos abrigos improvisados
no Parque de Exposições Marechal Castelo Branco.
“Eu penso
que pelo fato de eu ser cego deveria ter prioridade. Até hoje eles só me
prometem uma casa. Toda vez é a mesma história quando chegamos aqui. Nos
cadastram, fazem um monte de perguntas e nada sai do papel”, relatou o
ex-seringueiro.
Do outro
lado do galpão que abriga as famílias, “prioridade” é o assunto mais debatido
por um grupo de mães que tem filhos especiais e que há anos sofrem com as
enchentes ouvindo sempre a mesma promessa.
“Quando
vocês saírem daqui irão para um aluguel social e de lá para a casa própria”,
conta dona Creuza Lopes.
Ela afirma
que há três anos a Secretaria de Habitação e Interesse Social informou que ela
tinha sido sorteada com uma casa que nunca saiu do papel. Com uma filha especial
e sem condições de continuar pagando aluguel, ela relata que não sai para onde
vai quando as águas baixarem.
“Todo ano
temos que recomeçar nossa vida praticamente do zero. Dessa vez eu não sei o que
vou fazer e nem para onde vou”, falou emocionada.
Dona Maria
José Barbosa, dona Marcileuda Pereira da Silva e dona Maria Oliva, contam a
mesma história, dividem o mesmo sonho, alimentam as mesmas esperanças. “Eu
sonho com um cantinho digno para mim e minha mãe que sofre de deficiência”,
relatou Maria José.
Atividades coletivas - Como as divisórias são finas e não há tetos, o jeito é usar os abrigos
somente para dormir. No horário de maior calor, todos vão para frente dos
galpões ou dividem espaços de uso coletivo como os banheiros para lavar roupa e
tomar banho.
“A noite a reclamação é do barunho
do rádio do vizinho, a televisão com volume alto, mas temos que nos acostumar,
não tem outro jeito”, contou seu José.
A criançada que não estar nem ai para
a situação se diverte com os brinquedos disponíveis no Parque. Acompanhadas por
professores e voluntários elas praticamente não querem sair do pula-pula, no
campo de voleibol e futebol e são assíduos na hora da sessão de cinema.
“Para eles tudo é festa,
aproveitam as brincadeiras que só tem aqui, uma realidade bem diferente do
lugar onde moram”, comentou dona Maria do Carmo.
Cerca de seis mil pessoas
estão em cinco abrigos públicos mantidos pela Prefeitura, que serve atualmente
18 mil refeições por dia. Segundo a agência de notícias do município,
75 mil pessoas estão diretamente afetada pela alagação em 40 bairros.
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